quarta-feira, 30 de novembro de 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ah, Cecília...

... cujos poemas quase sempre refletem meu interior, sem usar levianamente as palavras.

Hoje ouvi uma palavra muito interessante, de um homem abençoado: é necessário saber usar as palavras e de certa forma, deixá-las no ponto certo, sem ultrapassar limites impostos ou abster-se dos mesmos, ignorando-as.

O que me deixa feliz de verdade, e que explode em cores na minha imaginação, é que sei que, dia a dia, sou transformada por aquilo e aqueles que me fazem bem, e mesmo dentro da tensa e escorregadia dúvida, fica a certeza de que serei melhor do que fui ontem.

Deparei-me com 'Canção Excêntrica', e ainda é o mesmo sentimento de anos atrás, quando o li pela primeira vez. Identificação completa, minha prancheta de desenho que o diga... existe frase dele por todo lado!

Ando à procura de espaço...
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida...
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço,
por esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.

Deve ser por isso que ando com o peito pesado nas últimas semanas... este não é um aço trabalhado, refinado... é bruto e grosseiro, juntando com o chumbo dos pés... Só sei que que mudo todos os dias, e apesar das mudanças, minhas opiniões continuam estáveis e duradouras...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Saudade sem destinatário


"Ando sentindo uma saudade descabida. Saudade descabida porque não está cabendo em mim mesmo. Não cabe em lugar algum. Transbordou. Saiu da borda. Uma saudade estranha. Uma saudade de ninguém. Uma saudade que não tem nome ou um endereço específico. Saudade de ligar pra alguém e chamar pra almoçar. Saudade de sair do trabalho seis horas da tarde e chamar pro cinema. Saudade de assistir televisão domingo à tarde debaixo do edredom. Saudade de ter com quem conversar no final do dia. E de ter alguém em quem pensar quando acordo. Saudade de poder falar que gosto (e também poder falar “não gostei”) sem precisar ensaiar antes. Saudade de sentir saudade de alguém.

Saudade do cheiro do meu perfume favorito em outra pele suada. Saudade de ouvir que eu sou linda (de manhã cedo com a cara amassada). Saudade de ficar em silêncio ouvindo a respiração. Saudade de viajar sem precisar dirigir. De cantar no carro e alguém me ouvir. Saudade de ouvir o CD de músicas favoritas que eu não gosto.

Saudade de acordar com flores e de receber presentes sem nenhuma data especial. Saudade de ter uns apelidos estranhos, que não têm nada a ver com o meu nome. Saudade de fazer as pazes e abraçar mais forte. Saudade de ser a número um e não apenas mais um número. Saudade de ser entendida sem precisar me explicar. De dizer o que eu quero sem precisar falar. Saudade de ser tão igual e fazer toda a diferença. Saudade de gostar dos mesmos lugares e de bebidas tão diferentes. Saudade do calor, do cheiro, do gosto. Saudade do toque, do beijo, do carinho. Saudade com remetente e sem destinatário. Saudade sem preço, sem endereço e sem data pra expirar. Saudade do que ainda me falta viver.

É... ninguém me falou que cama nova provocava efeitos colaterais. Ou talvez seja só a carência do domingo à tarde. Amanhã eu descubro."
 
fonte: (é , não é meu, apenas alguém externalizou o que minha alma tá martelando insistentemente... ): Estouro Em Palavras

sábado, 6 de agosto de 2011

Comporto-me

É, eu confesso:


"Você tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro.
Mas apenas te dou um beijinho no rosto.
Preciso me comportar. "

Tati Bernardi



quinta-feira, 28 de julho de 2011

Diálogo

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."


Rita Apoena
A simplicidade que emana é tão complexa por dentro.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mais perdida que as palavras

Ei, quando esta cidade estiver no crepúsculo,
Em algum lugar do mundo, o sol nasce novamente...
Em meio às tuas mãos, enquanto uma flor murcha,
Pode ser que uma pequenina semente caia...

Então, se você fizer desse solo,
o caminho que você irá seguir
Mesmo que de olhos fechados,
haverá amor?

Se esse mundo fosse plano,
Nós dois nunca teríamos cruzado nossos caminhos.
Estaríamos correndo, como se fugíssemos um do outro.
Sem diminuir a velocidade..
E, em meio a um reencontro milagroso,
Quem sabe se ficaríamos face a face novamente...*

Ir caminhar na praia hoje me fez refletir sobre o quanto minha vida anda como um poço: água parada, secando e servindo de foco pra mosquito-preguiça. E sobre como o fato do mundo não ser plano, como se acreditava , me fez ter encontros memoráveis com pessoas que me inspiram. É um amigo, um professor, um desconhecido papeando no ônibus ou numa fila para ingressos do cinema. E quando eu tiro o dia pra reverberações internas, é fato que vou abstrair de todo o resto, de tudo que me distrai e foge do alcance do meu pensamento. Então, me desculpe se um, e apenas um assunto ainda me agarra com os pés pra fora cama, e impede a divagação completa. Surpreendo-me comigo mesma quando percebo os pés pesando como chumbo ao andar, quando a leveza inunda meu peito parado,seco e medroso, embora fascinantemente feliz. Às vezes, tenho a impressão que sou um conflito de interesses ambulante. Sinto-me uma velha moça, sendo ambas e nenhuma ao mesmo tempo. Na corda bamba, me equilibrando pela Misericórdia DEle. Caminhando, sem perder a velocidade do pensamento que me alivia e angustia concomitantemente. Creio que é neste pequenos momentos que a vida muda. Entre o passo em falso, e o seguir adiante. Desde que me entendo por gente, as mudanças em mim não são bem vindas. Resisto a todas. Algumas mais, outras com menor intensidade, mas acabo moldando-me à elas, ou elas a mim – o que é bem mais raro. Quem dera que o mundo parasse de girar toda vez que eu quisesse descer, ou parar num dia, num ano, num minutinho... Ou então, queria girá-lo mais rápido, pra ver o que acontece depois. Se pudesse descrever hoje meu estado de espírito, diria que sou um tornado, F2. Relativamente fraco, mas que causa por onde passa...

Talvez, só talvez... isso agite as águas do meu poço. Preferia que fosse o Anjo que fizesse isso. Ao menos, utilidade , meu Deus, as águas teriam.

(*Tradução livre – Loop – Maaya Sakamoto)

sábado, 18 de junho de 2011

Mas, se você tivesse ficado, teria sido diferente?

Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você.
Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você.
Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.

Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?

Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.

Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.

. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.

("Pequenas Epifanias" - Caio Fernando Abreu)

Não é?

sábado, 11 de junho de 2011

(IN)Definição

"Pedi uma definição: ou me quer e vem, ou não me quer e não vem.
Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração.
Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida.
E não darei.
Não é mais possível.
Não vou me alimentar de ilusões.
Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos.

No plano real: que história é essa?
No que depender de mim, estou disposto e aberto.
Perguntei a ele como se sentia.
Que me dissesse.
Que eu tomaria o silêncio como um não e ficaria também em silêncio.
Acho que fiz bem."

Caio Fernando Abreu

E tenho dito, por outras palavras...

domingo, 8 de maio de 2011

2º DOMINGO DE MAIO

Samuel Gonçalves: 2º DOMINGO DE MAIO: "MÃE. Como descrever o que não tem descrição? Me fiz essa pergunta por varias vezes e a resposta foi sempre a mesma NÃO TEM COMO DESCREV..."



Fica a dica!

E Feliz Dia das Mães!

domingo, 1 de maio de 2011

Vamos ser nada?






Você me diz “Oi, tudo bem?”, eu - seca – respondo “tudo”. 

E depois? O que vem depois disso? O que posso te perguntar? O que você quer me contar? Até que ponto posso entrar na sua vida? Porque eu não sei mais nada de você. Não sei onde está trabalhando, que bares está frequentando, com que amigos anda se divertindo, quem está tomando conta do seu coração. Já não sei o que é importante pra você. 

Deixei o tempo envelhecer nossas conversas. E agora, quando você aparece, não consigo decifrar suas palavras, sua demora. Preencho suas reticências com medos e possibilidades pavorososas, produtos de noites insones. Talvez você tenha interpretado errado meu silêncio prolongado, talvez tenha cansado de esperar que eu dissesse mais alguma coisa, qualquer coisa. Talvez tenha simplesmente se ausentado, esquecido. 

Por via das dúvidas permaneço muda, congelada na expectativa irracional de que você me dê uma chance, só mais uma, de te contar que sinto demais a sua falta, e que basta um “Oi, tudo bem?”, pra me aquecer

Mas é claro, se você me chamar, vou te perguntar é sobre o seu dia, o tempo ruim, a correria de sempre… Será que você vai entender que esse é o meu jeito – covarde, medroso – de mostrar que sua amizade é das coisas mais preciosas e raras que tenho?


Catei daqui: Jornal de Poeta

Então, reconheço que a liberdade é só para uns poucos



“Se eu me demorar demais olhando Paysage aux oiseaux jaunes, de Klee, nunca mais poderei voltar atrás.

Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão irremediável e que talvez seja a da liberdade. O hábito de olhar através das grades da prisão, o conforto de segurar com as duas mãos as barras, enquanto olho. A prisão é a segurança, as barras o apoio para as mãos.

Então reconheço que a liberdade é só para uns poucos. De novo coragem e covardia se jogaram: minha coragem, inteiramente possível, me amedronta. Pois sei que minha coragem é possível.

Começo então a pensar que entre os loucos há os que não são loucos. É que a possibilidade, que é verdadeiramente realizada, não pode ser entendida. E à medida que a pessoa quiser explicar, ela estará perdendo a coragem, ela já estará pedindo; Paysage aux oiseaux jaunes não pede.

Pelo menos calculo o que seria liberdade. E é isso o que torna intolerável a segurança das grades; o conforto desta prisão me bate na cara. Tudo o que eu tenho aguentado – só para não ser livre…” 


Clarice Lispector, em Para Não Esquecer

 Por isso eu digo que não sou louca... apenas não dei margem de acesso à minha coragem. E vivo me explicando, ai, que fado cheio de enfado.

segunda-feira, 21 de março de 2011

"me deseja também uma coisa bem bonita"



Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.

CFA


É, querido leitor - e são queridos mesmo - eu desejo a vocês fé. Mas aviso que fé é um Dom, e não vem de qualquer lugar. É um dom divino crer naquilo que a gente não vê. Então, eu posso desejar a você que tenha. Mas ela não virá sobre você como uma tsunami de sensações. Espere sentado se pensar assim. Tem que esperar correndo, andando, fazendo, vivendo o dia-a-dia... é nas dificuldades que a gente persevera, e mostra à platéia que quem vai até o fim da corrida, ainda que a resposta seja negativa, é que é digno do prêmio.

Na verdade, eu ando meio sem fé. Meio é algo nem existe, mas deixa eu com as minhas burricizinhas macabras contra  a Gramática

Então, desejem-me coisas bem bonitas - e sabedoria pra lidar com elas!

Uma ótima semana a todos.

terça-feira, 1 de março de 2011

"Do teu coração me diz adeus uma criança"

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.


Pablo Neruda






quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Acaso (2)

'É como você bem disse sobre a arte de saber viajar. A viagem começa no momento em que decidimos ir. A beleza que nos espera já se antecipa no desejo que nos faz arrumar as malas.
Eu decidi viver assim. As malas estão sempre prontas. Quando eu percebo que a vida me chama, não penso duas vezes. Eu vou. '

[Pe. Fábio de Melo]

Estava eu a 'futucar'  alguns textos e reflexões - tipo as caixinhas de felicidade e humor para todos os momentos que vivo...bom ou mau humor, diga-se.

E encontrei esta pequena notação sobre a ideia de viajar. Quando penso em viajar, já estou literalmente viajando em meu pensamento. Já esquematizei todas as possibilidades, todos os desejos, a lista de prioridades, o que vou e não vou fazer naquele lugar, e aí esqueço que podem ter imprevistos, acasos, acontecimentos sem a notação científica de funcionar como o planejado!

E como é difícil para eu estar sempre com as malas prontas, e aproveitar as oportunidades "viagísticas" que me aparecem...

Acasos (1)




"Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro"


Rubem Alves

Wherever you are