Apenas deixando aqui, para quem ainda me acompanha, uma linda música.
Tenham um junho maravilhoso.
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...
"Às vezes é preciso diminuir a barulheira,
Parar de fazer perguntas,
Parar de imaginar respostas,
Aquietar um pouco a vida
para simplesmente deixar o coração nos contar o que sabe.
E ele conta.
Com a calma e a clareza que tem. "
Deixe o coração falar - Ana Jácomo
— Não gosto de nada por aqui —disse Frodo—, pedra ou poço, água ou osso.Terra, ar e água, tudo parece amaldiçoado. Mas nessa direção vai nossa trilha.
— É, é isso mesmo — disse Sam. — E de modo algum estaríamos aqui se estivéssemos mais bem informados antes de partir. Mas suponho que seja sempre assim. Os feitos corajosos das velhas canções e histórias, Sr. Frodo: aventuras, como eu as costumava chamar. Costumava pensar que eram coisas à procura das quais as pessoas maravilhosas das histórias saíam, porque as queriam, porque eram excitantes e a vida era um pouco enfadonha, um tipo de esporte, como se poderia dizer. Mas não foi assim com as histórias que realmente importaram, ou aquelas que ficam na memória. As pessoas parecem ter sido simplesmente embarcadas nelas, geralmente — seus caminhos apontavam naquela direção, como se diz. Mas acho que eles tiveram um monte de oportunidades, como nós, de dar as costas, apenas não o fizeram. E, se tivessem feito, não saberíamos, porque eles seriam esquecidos. Ouvimos sobre aqueles que simplesmente continuaram — nem todos para chegar a um final feliz, veja bem; pelo menos não para chegar àquilo que as pessoas dentro de uma história, e não fora dela, chamam de final feliz. O senhor sabe, voltar para casa, descobrir que as coisas estão muito bem, embora não sejam exatamente iguais ao que eram — como aconteceu com o velho Sr. Bilbo. Mas essas não são sempre as melhores histórias de se escutar, embora possam ser as melhores histórias para se embarcar nelas! Em que tipo de história teremos caído?
— Também fico pensando — disse Frodo. — Mas não sei. E é assim que acontece com uma história de verdade. Pegue qualquer uma de que você goste. Você pode saber, ou supor, que tipo de história é, com final triste ou final feliz, mas as pessoas que fazem parte dela não sabem. E você não quer que elas saibam.
— Não, senhor, claro que não. (...) Será que as grandes histórias nunca terminam?
— Não, nunca terminam como histórias — disse Frodo. — Mas as pessoas nelas vêm e vão quando seu papel termina. Nosso papel vai terminar mais tarde — ou mais cedo.
Encontre alguém que seja improvisado. Não precisa vir com rótulos e prazos, mas que venha com muito espaço e muita matéria.
Encontre a pessoa que vai te dizer o quão belos são seus olhos, mesmo que tenha acabado de acordar. E vai elogiar o modo como você prende os cabelos e a sua expressão quase hermética ao ler Clarice Lispector.
Que passe horas te olhando e tente, com frases comuns e gestos pueris, te explicar a singularidade do sentimento que as suas palavras e companhia denotam.
Encontre alguém que lhe mostre coisas novas em você mesma, que te ajude a se conhecer melhor. Que aplauda suas qualidades e afague os seus defeitos. Que lhe dê chão, parede e teto; e compartilhe o céu com você. Que você possa presentear com O menino maluquinho de Ziraldo.
Ache a pessoa que admire os seus versos e ache incrível a sua memória lhe permitir gravar todas as frases da Amélie Poulain. Que não estranhe as suas citações de Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, porque mesmo que não saiba como, ele compreenderá, assim como Ulisses.
Encontre esse alguém para assistir comédias românticas com você e saiba todos os significados que a vontade de comer chocolate tem. Que te ensine a jogar xadrez e te escreva uma carta.
Alguém que compreenda o seu choro mensal e a sensibilidade que te faz, muitas vezes, querer as coisas mais simples do mundo, como a presença silenciosa ou um abraço quente. Que perceba quando não é sim, e sim é não.
Que seja um homem para perceber a mulher que você é. E um menino, para não se deixar embrutecer com as trivialidades acessíveis do tempo.
Encontre a pessoa que você possa amar da mesma maneira como se ama um dia ensolarado e um bichinho de estimação. Que te ame com leveza, respeito e sabor de fruta.
Que não sinta medo de ser bom para você, que não se acovarde pelo seu jeito escritora e ouse adentrar suas páginas sem receios e ponderações. Que te enxergue completa e ainda assim queira fazer parte de você.
Que se divida e venha inteira. Que te dê mais do que você deseja. Que te inspire a dar mais de si mesma, sem que você ao menos perceba.
Encontre quem não minta para você. Que seja taciturno, mas que saiba se despir dos adornos convencionais quando forem só os dois.
Que seja o mais simples possível. Porque ser simples é andar descalço e não necessariamente de havaianas.
Então encontre alguém já feito,refeito ou ainda por fazer. Mas encontre quem te fará.